12 perguntas e respostas sobre a anestesia na hora do parto

Quais são os tipos de anestesia mais utilizados? O bebê também é anestesiado? A analgesia pode dificultar o trabalho de parto? Descubra a seguir!

Por Luísa Massa para Revista Crescer

Para quem está de fora, nove meses parece um tempão. Mas para as grávidas, que estão se preparando para a chegada do filhote, esse período passa rapidinho. E junto com os preparativos também surgem dúvidas sobre diversos assuntos como amamentação, sono do bebê e, claro, os tipos de parto.

E ao pensar na maneira como o pequeno chegará ao mundo, muitas questões e medos sobre a dor surgem e é aí que os remédios que diminuem o desconforto entram. Primeiro de tudo é importante estar familiarizada com os termos: a anestesia é a diminuição ou a abolição da sensibilidade e da mobilidade, usada na cesárea, e a analgesia é a diminuição ou a abolição da sensibilidade dolorosa, opção feita no parto normal.

Para esclarecer as perguntas das futuras mamães e trazer mais informações sobre o assunto, conversamos com Alberto Vasconcelos, anestesiologista da Maternidade Pro Matre, de São Paulo. Confira a entrevista:

1. A anestesia da cesárea é diferente da do parto normal?

Sim. Quando fazemos anestesia para cesárea, precisamos do alívio total da dor e do relaxamento da musculatura da região abdominal para facilitar o acesso do obstetra. Agora, quando fazemos uma analgesia para o parto normal, a paciente vai continuar sentindo as contrações uterinas, mas sem ter dor – o que pode, inclusive, facilitar a condução do trabalho de parto.

2. No parto normal é necessário ter uma dilatação mínima para que a analgesia seja feita?

Não. Hoje o conceito que temos é o seguinte: a paciente pode estar com 3 centímetros de dilatação e ter muita dor ou chegar no hospital com 7 centímetros e estar bem. Ou seja, a dilatação não interfere. O fator predominante é a mãe: ela que determina se está com dor ou não. Para mim o importante é a solicitação dela, quando ela vai pedir para que a analgesia seja feita ou quando o obstetra indicar por achar que pode facilitar o relaxamento da pelve e a descida do bebê.

3. Quando a mãe recebe anestesia ou analgesia no parto, o bebê também é anestesiado?

Não. Quando fazemos a anestesia regional – peridural – ou combinada – raqui e peridural – o anestésico é injetado na mãe. O remédio vai bloquear os nervos dela e o bebê não é anestesiado. Mas pode passar para a criança? Se passar um pouco não tem nenhum efeito importante porque avaliações neurocomportamentais mostram que não é deletério para o neném. Na anestesia geral já é diferente, mas geralmente as crianças nascem bem.

4. Atualmente, quais são os tipos de anestesia mais utilizados no parto?

No parto normal, o que mais fazemos de analgesia é a associação da raqui com a peridural, onde injetamos um pouco de anestésico na raqui e deixamos um catéter na peridural para ir complementando a anestesia durante o trabalho de parto. Mas pode fazer só a peridural? Sim, mas isso depende de alguns fatores como, por exemplo, se o bebê estiver nascendo, se a cabeça dele estiver quase na vulva. Tudo isso varia de acordo com a fase do trabalho de parto e do objetivo que você quer. Na cesárea nós fazemos mais raqui, que tem um efeito mais rápido e tecnicamente é mais fácil. Costumavam dizer que esse tipo de anestesia aumenta a incidência de dor de cabeça, mas atualmente usamos agulhas menores, muito finas, que raramente causam este desconforto.

5. A analgesia para o parto é aplicada nas costas?

Sim. A raqui e peridural são feitas na região dorsal, no espaço entre as vértebras. Na raqui, injetamos o anestésico no liquor – líquido que banha a medula -, mas não fazemos a anestesia na altura da medula e, sim, abaixo dela. Já a peridural é feita antes do espaço onde está o liquor, no qual bainhas nervosas passam por ele.

6. A analgesia pode dificultar o trabalho de parto?

Atualmente, as publicações internacionais sobre o assunto são bem consistentes e defendem que ela não interfere na evolução do trabalho de parto. O objetivo é aliviar a dor da paciente, mas a dinâmica continua. Em alguns casos, ela traz benefícios nesse aspecto porque a gestante pode estar com tanta dor que não consegue fazer a força necessária para o bebê sair.

7. Mas a analgesia bloqueia a vontade de fazer força?

Não. A grávida vai sentir o útero contrair, mas sem ter dor e esse é o objetivo. Então, ela sente que a barriga está ficando mais dura e consegue fazer o processo de expulsão do neném.

8. E os efeitos adversos? A anestesia pode, por exemplo, causar coceira, tremores e vômitos?

Cerca de 70 a 80% das medicações que utilizamos no parto dão coceira no abdômen, braços, mamas, rosto – geralmente na parte superior do corpo. Se estiver causando muito incômodo, conseguimos reverter a situação, só que a analgesia deve diminuir e a gestante pode sentir um pouco mais de dor. Mas é importante dizer que essa coceira é variável: não sabemos o quanto vai coçar e nem exatamente aonde. Já o tremor é uma coisa muito estudada porque há vários fatores que interferem nisso como a ansiedade, o frio da sala e o stress. Hoje não é tão comum a paciente ter nâuseas e vômitos, pois existe o cuidado de pedir que ela fique em jejum. Em uma cesárea eletiva, a mãe deve ficar 8 horas sem comer sólidos, mas refeições mais leves são aceitas com até 6 horas antes do procedimento e para os líquidos há uma tolerância de 3 a 2 horas. No parto normal, o maior problema é que nunca sabemos o que vai acontecer. Aconselhamos as pacientes que estão começando o trabalho de parto a não terem uma refeição muito pesada porque, dependendo do quadro, pode acabar virando uma cesárea.

9. Depois do parto, o efeito da anestesia passa rápido?

A anestesia para a cesárea acaba durando cerca de 2 horas e meia, 3 horas. Considerando que a cirurgia demora aproximadamente 1 hora, a gente tem como rotina deixar as pacientes em recuperação após o procedimento para ver se elas estão bem, se a pressão está boa, se não há sangramentos. Essa observação é recomendada mundialmente e, saindo da sala de recuperação, a anestesia está quase completando o seu ciclo. Então a mãe já consegue mexer as pernas, movimentar um pouco, mas ainda não pode andar. A analgesia para o parto normal também dura mais ou menos esse tempo, mas fazemos uma associação da raqui com a peridural.

10. A gestante pode receber a analgesia em qualquer etapa do trabalho de parto?

Sim. Essa é a questão: ela solicita quando achar necessário. A analgesia funciona para tirar a dor, mas o bebê vai nascer como ela quiser.

 

11. A analgesia ou anestesia de parto faz com que as mulheres não percam a sensibilidade?

O objetivo da analgesia é tirar a dor. Tecnicamente bem feita, a paciente vai sentir a contração do útero sem ter dor. Na cesárea, a concentração de anestésico é diferente. A grávida pode sentir um pouco do tato, mas não em muita intensidade, até porque é necessário ter o relaxamento da musculatura da parede abdominal.

12. Em quais casos a anestesia geral é feita?

É importante dizer que na anestesia geral injetamos anestésico na corrente sanguínea da paciente e ela perde a consciência. Fazemos a intubação e o remédio passa pela placenta para o bebê, por isso, é necessário que a cesárea seja realizada com agilidade. Mas só optamos por ela quando a paciente tem uma patologia importante, como problemas cardíacos ou de coagulação, mas temos que estudar cada caso separadamente e conversar com o médico que a acompanha para ter mais informações.

 

anestesia ChaNaWiT/Thinkstock/Getty Images
ChaNaWiT/Thinkstock/Getty Images

 

 

 

 

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