Relato de Sofi Nieto para o Grupo Nascer

Não tem como falar do Ben sem falar da Isa. Falar de um parto sem falar do outro.

A Isa nasceu com quase 42 semanas. Quando já não sobravam nem segundos do segundo tempo eu rompi bolsa, mas, mesmo assim, não entrei em trabalho de parto. Precisamos induzir artificialmente e junto com isso tivemos várias intervenções (necessárias), mas que não faziam parte do que eu tinha sonhado.

Ela nasceu linda, grandona, saudável e de parto normal após analgesia, num 06 de fevereiro de muito calor, às 04h34 da manhã.

Três anos depois me preparava para o parto do Benjamin, um bebezinho pequeno pelas ecografias, mas, também supersaudável.

 

A gravidez

A gestação inteira foi tranquila, tirando um descolamento pequeno no começo e os benditos enjoos que demoraram uns 5 meses para passar.

Conheci a Patricia Teixeira, nossa doula maravilhosa, e o santo bateu de cara. Além do jeitinho meigo, ela entendeu superbem a minha situação após a cirurgia do estômago. Não tive dúvidas, seria ela que me acompanharia junto ao Dr. Álvaro neste parto.

Muitas coisas eram diferentes, uma experiência de parto prévia (porém muiiito diferente do que desejava para esta vez), um curso de doula e uma esperança forte de conseguir um parto natural. Não sou extremista, sempre falei para todos os envolvidos que se eu pedisse analgesia era para fazer, mas no fundinho da minha alma sonhava em conseguir sozinha. Era um sonho meu, de saber que eu podia, que eu era capaz e além de tudo isso, de saber que esse seria o melhor presente que poderia dar ao meu filho: a oportunidade de nascer quando estivesse pronto, de uma maneira calma e respeitosa, sem intervenções desnecessárias.

Também tentava me convencer de que ele não chegaria cedo, pois para a ansiedade em pessoa que sou, era melhor assim, caso ele decidisse ficar no forninho por mais umas 2 semanas, igual a irmã mais velha.

Durante a gestação, ele se ajeitou sentadinho na barriga e assim ficou por 32 semanas. Quando chegamos na semana 32, marquei uma sessão de acupuntura com a Tatiana Pereira para ver se dávamos uma ajudinha! E não é que na próxima consulta ele havia virado? Cefálico à direita, mas cefálico! Enfim, tudo se encaminhava para o parto que eu queria.

O tempo foi passando e quando chegamos às quase 39 semanas, lá fui eu de novo fazer acupuntura com a Tati para ver se acordávamos o menino para vir ao mundo. A ansiedade começava a bater e o medo de ir até as 42 semanas e ter que induzir novamente, começava a aparecer.

Com 38 semanas e 5 dias fomos ao consultório do Dr. Álvaro. Estava tudo perfeito mas, no fim da consulta, ele disse: acho que ainda nos vemos semana que vem! Isso foi na quarta feira. Voltei para casa e avidei a família que ninguém precisaria sair correndo, pois eu tinha somente 1,5 cm de dilatação.

Porém, algo dentro de mim dizia que não chegaríamos até segunda-feira. Quinta e sexta de feriado, com a pequena em casa, foram dias intensos. Na sexta fomos com a Isa e a madrinha do Ben andar no parque. Demos até umas corridinhas para ver se ele se empolgava pra sair brincar com ela, mas voltamos pra casa sem sinal nenhum de nada.

 

O trabalho de parto

No sábado chegaria a minha mãe e tínhamos que ir buscá-la ao meio-dia no aeroporto. O Léo havia saído para trabalhar cedo e eu acordei as 8h com contrações de 2 em 2 minutos. Cada uma tinha 30 segundos de duração. Sabia que não era trabalho de parto e, além de tudo, conseguia ficar tranquila na cama enquanto as contrações iam e vinham.

Mesmo assim, avisei o Léo para vir para casa assim que pudesse e fiquei curtindo a Isa dormindo ao meu lado até que ela acordasse. Quando acordou, comecei arrumar a mala da maternidade que ainda não estava pronta. Ela ficou confusa, achou que iríamos viajar (aeroporto buscar a Abu + mala = viagem). Demos risada dela colocando as coisinhas na mala. Sentei com ela e expliquei que o Ben estava querendo chegar e que, quando fosse a hora, ela iria para a casa da vovó. Papai e mamãe teriam que passar umas duas noites no médico. Por isso, preparávamos a mala.

Léo chegou.  Achamos melhor mandar uma mensagem para a Pati (a doula que comentei logo ali acima). Ela confirmou que acreditava serem os pródromos. Disse que era melhor não ir ao aeroporto e que eu deveria avisar o Dr. Álvaro, pois ele estava se programando para o meu parto apenas no fim do mês.

Minha sogra buscou a Isa, minha filha, e foi com ela ao aeroporto encontrar minha mãe. Aproveitei para dormir um pouco, a Pati achava que teríamos uma longa madrugada.

Minha mãe chegou e passamos tarde e noite em casa, conversando e brincando com a Isa. As contrações foram ficando cada vez mais espaçadas. Quando todo mundo foi dormir mandei uma mensagem pra Pati, às 23h30, falando que tinha parado tudo e achava que nada aconteceria de madrugada. Talvez, só no domingo pela manhã.

Deitei. Mas já não achava posição nenhuma confortável, estava inquieta demais. Virava para um lado e para o outro até que, lá por 1h30, senti uma contração. Dois minutos e meio depois, outra! E, desta vez, durando quase um minuto cada uma. Agora sim sabia que esta vez era de verdade! Fiquei deitada, sentindo cada onda e pensando que finalmente faltava pouco para o Ben chegar.

Lá pelas 2 da manhã uma contração mais forte veio. Levei um susto com um “PLOFT” forte na minha barriga. “A bolsa!”, pensei. Levantei, mas não tinha muito líquido. Fiquei na dúvida se teria sido isso mesmo. Até que 1 minuto depois veio uma nova contração MUITO mais intensa. Definitivamente tinha rompido a bolsa. Fiquei em pé, mexendo em cada contração, para ter certeza que era trabalho de parto mesmo. Às 2 e meia da manhã pedi paro Leo ligar para a mãe dele vir ficar com a Isa e para Pati. Estávamos indo para a maternidade.

 

A hora chegou!

Às 3 da manhã já estávamos na maternidade Curitiba em avaliação com a plantonista: 6 centímetros e bolsa rota. Avisaram o Álvaro, mas ele já estava a caminho ?. Eu não acreditava! No parto da Isa eu havia pedido analgesia com apenas 5 centímetros!

Fomos para o internamento, a suíte de parto estava disponível. Pegamos. A Pati chegou. Subimos e ficamos por algumas contrações no cavalinho. Ela explicou que queria esperar o Dr. Álvaro chegar antes de entrar no chuveiro. Três… quatro contrações… entrei no chuveiro. Santo alívio! Fiquei feliz lá dentro, as contrações realmente eram ondas de pressão que iam e vinham e eu sabia que elas traziam o Benjamin cada vez mais perto. As contrações não matam. Eu conseguiria aguentar qualquer coisa por um minuto.

Estava tranquila, no meu mundinho, com a música que eu havia escolhido, o cheiro que eu tinha pedido e as pessoas que eu queria perto de mim. Suíte cheia: Leo, Pati, Álvaro, a minha mãe e a Gabi Maistrovicz, que chegou rapidíssimo para fotografar.

Mesmo assim, eu não via ninguém!

Cinco minutos depois (que na verdade foram 60, mas que para mim passou muito rápido), a Pati perguntou se eu toparia sair do chuveiro para o Dr Álvaro me avaliar. Estava curiosa também, esperei passar a contração e fomos pra maca. 7 para 8 centímetros… JÁ!

Como são poderosas as palavras neste momento!

Senti que estava mais próximo do que isso. A Pati me sugeriu ficar em 4 apoios na maca e eu topei. Sabia que seria tenso, mas que seria bom. Veio a primeira contração e eu quis xingá-la! Mas, pensei: na próxima eu desço… Veio  mais uma,  e mais uma. Assim foram cinco contrações até que não quis mais. Voltamos para o chuveiro. E, de repente, depois de duas contrações tudo mudou.

 

Alegria e medo

A pressão era diferente. Eu já não conseguia ficar quieta durante a onda, precisava fazer força (os puxos!). Pensei para mim mesma: será? Não pode ser! Já? Esperei umas duas contrações e decidi que não conseguiria, queria analgesia.

De novo conversei comigo mesma: “você está em transição, todas as mulheres acham que não vão conseguir, querem desistir”. Mesmo assim falei para a Pati: quero analgesia, não consigo. Ela repetiu o mesmo que a minha cabeça já havia me falado. Então eu respondi: quero fazer força então! 🙂

Pati falou que ia encher a banheira e, de repente, tudo parecia em câmera rápida ( e, na verdade FOI em câmera rápida!). Coisas entrando e saindo da sala, pessoas cochichando e eu escutei um: “chama o pediatra que está nascendo”.

Que alegria INFINITA e que MEDO ao mesmo tempo. Escutei o Dr. Álvaro pedindo para acelerar o enchimento da banheira e me pedindo para levantar, para poder entrar nela. Pedi para esperar passar a contração, todo mundo parou e esperou. Que sensação boa de sentir-se respeitada.

Levantei. Perguntei onde deveria ir. Me mostraram. Sentei. Falaram que talvez era melhor do outro lado. Ignorei. “Daqui não saio”, falei. Álvaro concordou: “está ótimo assim”. As contrações vinham e eu esquecia de fazer força. O meu corpo fazia o que tinha que ser feito, sozinho.

Eles pediram para eu dar uma ajudinha e, de repente, em 3 vezes eu senti Benjamin nascendo. Primeiro a cabecinha, depois o corpinho e depois as perninhas. Dr. Álvaro segurou Ben embaixo da água, fez ele nadar um pouquinho para sentir que tinha nascido e o trouxe para o meu colo.

“Não acredito”, foram as primeiras palavras que eu consegui falar. Então, escutei do meu médico: “Por que? Eu sempre acreditei que você conseguiria”.

E não é disso que precisamos? Que acreditem na gente, que nos apoiem? Nesse momento, o Benjamin chorou. Eu, Gabi e minha mãe também.

A Isa, em casa com a vovó, acordou sozinha neste MESMO horário e não quis voltar dormir.

Me mandou um áudio: estou muito feliz que meu irmãozinho chegou.

Chorei de novo.

 

Benjamin veio ao mundo no dia 18 de junho de 2017, às 06h02, na Maternidade Curitiba, ao som de Coldplay, a última música que Sofi adicionou à playlist no dia anterior. Ele ficou com a mãe durante toda a primeira hora de sua vida.

 

 

 

 

 

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