parto de gêmeos

Como assim? Gêmeos?

Relato do parto de gêmeos de Louize Procópio Antunes, paciente do Dr. Álvaro Silveira Neto

Engravidei pela primeira vez em 2012. Desde o início da gestação eu sonhava em ter um parto normal. Com 40 semanas descobri que não seria possível. Durante a cesariana não conseguia sentir que aquilo era real e que naquele momento era meu filho que estava nascendo de dentro de mim. Parecia apenas um filme. No dia seguinte ao nascimento eu me sentia tão vazia por dentro que eu não consegui sentir amor, não consegui me conectar com meu filho. Algo não estava certo em meu coração.

O meu puerpério foi muito difícil, avassalador, um verdadeiro inferno na terra. Eu chorava todos os dias e escondi de todos esse sentimento de vazio interior. Doía muito não ter quem compreendesse tamanha frustração pela qual eu estava passando.

Ajuda psicológica
Procurei uma psicóloga e doula e juntas fizemos um trabalho de re-parto para ressignificar o nascimento do Sam. A cada dia fomos nos conhecendo melhor e nos conectando. O convívio mãe e filho, aliado à amamentação, trouxe um vínculo inexplicável e delicioso entre nós, muito além do amor.

Nova gestação
Em setembro de 2015 descobri que estava grávida novamente. Não foi planejado, mas eu e meu marido ficamos muito felizes com a notícia! Marcamos uma ultrassonografia e nesse dia descobrimos que poderia ser uma gestação gemelar!

Como assim? Gêmeos?
Não tinha casos de gestação de gêmeos na família. Até que, com 7 semanas, foi confirmado: o nosso seria o primeiro. Meu marido encarou muito bem a notícia. Já, para mim, foi como tirar o chão de meus pés. Naquele momento foi um susto muito grande e uma alegria tanto quanto. No mesmo dia acabei descobrindo que não poderia ter o meu sonhado parto domiciliar pois a gestação gemelar é considerada de risco.

Tive dois sangramentos durante a gestação: um com 12 semanas, outro com 19. No último, fiquei internada e descobrimos uma placenta prévia.

Meu coração estremeceu. Teria que passar por uma nova cesárea? Meu sonho estava indo por água abaixo… Como assim eu não iria poder parir? Conversei com o médico e ele pediu para esperar até 28 semanas. Durante esse tempo eu rezei! Rezei muito! Com 28 semanas fizemos outro exame. O resultado? A placenta havia subido! O meu parto ainda era possível!

Sozinha, em casa, embaixo do chuveiro eu chorei, agradeci a Deus por ainda me dar a possibilidade de parir. Eu ainda tinha a chance.

Um novo susto: a bolsa!
Com 32 semanas comecei a sentir dores, cólicas e algumas contrações. Mas a dor era estranha, não parecia dor de trabalho de parto. E não era. Era cálculo renal. Fui liberada e voltei para casa. Desse dia em diante, passei a sentir uma coceira forte na barriga. Domingo, 24 de abril, passei a noite em claro com a alergia só aumentando. Mal amanheceu o dia, pulei da cama e pedi ao marido para me levar à Maternidade Curitiba. Contataram meu médico, que pediu meu internamento e medicação de anti-histamínicos para o alívio e outros exames.

Fui ao banheiro para colher urina. Fiz força, mas infelizmente nada. Quando me sentei, algo escorreu. Minha bolsa havia rompido! Imediatamente as dores das contrações se iniciaram.

A obstetra de plantão ligou para o médico. Ele pediu medicação para cessar o trabalho de parto e injeções de corticoide para amadurecer os pulmões dos bebês.

Quando a doula Sindriane chegou ao meu quarto eu estava vermelha, completamente vermelha, com muita coceira e contrações. Mesmo assim eu sorria porque, apesar da situação, eu estava bem assistida e confiante. Em determinado momento falei para a Sindri: “pode ficar tranquila que eu vou parir”.

Vamos impedir o trabalho de parto!
Dr. Álvaro chegou, examinou e explicou que precisaríamos impedir o trabalho de parto para dar tempo de a medicação, que ajudaria os pulmões dos bebês, fazer efeito. Explicou-me que não deveríamos ficar muito tempo com bolsa rota, mas que, com tudo bem controlado e fazendo exames diários, daria para aguardar até sete dias.

A espera
Dr. Álvaro pediu mais exames de sangue e, à noite, me tirou o sono com uma ligação falando que em um dos exames havia dado alteração. Conforme fosse, teríamos que optar pela cesariana. Maldita infecção sei lá de onde! Depois de muito custo consegui dormir… às 3h40 acordei com contrações. Eba! Eu estava feliz, talvez daria tempo de parir!

Pedi a bola para a enfermeira. Mandei mensagem para a doula, tomei banho quente. As contrações passaram. Logo cedo a querida Sindri estava lá. O médico também chegou e pediu novos exames.

A essa altura, a medicação para inibir o trabalho de parto já havia sido retirada e o corticoide já tinha dado o tempo mínimo para fazer efeito. Perguntamos se poderíamos fazer escalda-pés para tentar induzir naturalmente meu corpo a ‘relembrar’ que tinha que entrar em trabalho de parto, além de caminhar etc.. O médico autorizou. Sindri e eu passamos o dia caminhando pela maternidade, conversando e fazendo exercícios na bola.

No fim da tarde Dr. Álvaro retornou com boas notícias: os exames estavam melhores,  poderíamos esperar mais um ou dois dias pelo trabalho de parto! Às 19h meu marido retornou com as ervas para o escalda-pés, que foi feito por volta das 22h. Fui dormir, estava muito cansada.

O início do trabalho de parto
Dia 27 de abril, às 1h30, acordei com uma dor muito forte, mal conseguia me mexer na cama, um minuto depois passou. Às 3h30, as contrações vinham de 15 em 15 minutos. Mandei mensagem para a doula. Fui para o banho, depois de uns 30 minutos saí e acordei meu marido. As contrações estavam de 10 em 10 minutos.
Como o marido não conseguia ficar acordado para me ajudar a cronometrar, comecei a ficar nervosa e a brigar com ele! Liguei para a doula, eram 4h50 da manhã. Voltei para o banho, pois eu estava muito brava com o marido (kkkkkkkkkkkk).

Quando saí, meu médico entrou no quarto perguntando: “Esses gritos eram seus?” Eu afirmei com a cabeça, e ele me respondeu: “É, você já está começando a ficar com cara de paisagem”. Eu já tinha vontade de jogar o marido pela janela, ele era o segundo da fila! Hahahahahaha… Fiquei uma onça em trabalho de parto!

É hoje!
Nesse momento a Sindri chegou ao quarto. “Antes de eu entrar escutei a Lou vocalizando e pensei: “é hoje!”. O médico avaliou. “Apenas 1,5 de dilatação, mas com o colo muito favorável”, disse ele. Pensei: “Só vou parir amanhã nesse ritmo”. Então o médico explicou que eu tinha que ficar à vontade e podia chamar quando fosse necessário, ele estaria no consultório, mas viria correndo assim que fosse preciso.

Fechei os olhos para o mundo e os abri para dentro de mim
“Louize, você precisa focar no trabalho de parto. Precisa se entregar e parar de lutar contra a dor. Você precisa aceitá-la, você tem que achar seu lugar seguro. O meu é uma cachoeira. Qual é o seu?”, disse a Sindri. Fiquei pensativa. E me entreguei. Fechei os olhos para o mundo e os abri para dentro de mim. A cada contração eu imaginava uma vela, uma única vela que estava bem à minha frente e a qual eu não deveria apagar, e para tal deveria inspirar pelo nariz e espirar lentamente pela boca. No controle da respiração e de olhos fechados, foi onde me encontrei e me conectei com meu íntimo, aceitei a dor como parte do processo e esqueci de tudo, apenas senti e vivi tudo, cada instante.

Minha doula, de forma muito sutil, conseguia captar tudo que eu precisava: água, massagem, música. Foi meu farol na escuridão, acendeu a vela que iluminou meu eu interior.

Durante o trabalho de parto ela usou óleo essencial de lavanda para fazer massagens, o quarto ficou todo com aquele cheirinho maravilho. A água que ela me dava para tomar estava temperada com canela e cravos. Tomamos café e até consegui cochilar uns minutos entre as contrações.

Quando acordei não tinha mais posições que eu conseguisse ficar. Tudo me incomodava e novamente o meu farol me ajudou. “Lou, você precisa achar uma posição e relaxar na contração”. Então voltei para o sofá com as pernas cruzadas em posição de meditação de yoga e nessa posição consegui ir relaxando a cada contração.

50%
Não sei exatamente o horário de nada mais a essa altura, tudo já estava meio confuso. Mas lembro que o Dr. Álvaro entrou no quarto falando que minha vizinha de porta estava desistindo de parir e havia pedido por uma cesariana. Para ele atender ao pedido dela, disse que antes me avaliaria. Nesse momento era a metade do caminho: 5 cm de dilatação.

Ele pediu para eu usar a bola, agachar ou fazer posição de buda rezando para ajudar Luiz Fabricio a baixar.
Quando ele virou as costa e saiu do quarto, Sindri disse: “Lou, eu vou te ajudar a agachar nas contrações”. Eu respondi: “não vou abaixar coisa nenhuma, nem sentar na bola, nem nada. Eu sinto esse menino aqui dentro mexer a cada contração. Além de ele se mexer, eu sinto baixar e subir a cada contração”!

A essa altura as dores das contrações já não cessavam completamente entre uma e outra. Lembro de xingar todas as mulheres que fazem seus lindos relatos cheios de floreios que foi uma delícia parir!!! O único lugar que eu queria ficar era no vaso sanitário.

Depois de um tempo eu pedi a analgesia. Eu estava com 7-8 de dilatação. Dr. Álvaro ficou me olhando. Eu reafirmei: “Eu quero a analgesia”. Ele falou que ia avisar o pessoal do centro cirúrgico. Poucos minutos se passaram (pareciam horas!) e eu comecei a sentir puxos. A vontade de fazer força era incontrolável e a essa altura eu já estava urrando. Não sei exatamente quando o marido chegou, mas ele já estava no quarto.

De repente entraram duas enfermeiras loucas querendo me tirar do vaso sanitário, falando que os bebês nasceriam ali. Agora, lembrando, é muito engraçado. A enfermeira ainda veio me puxar pelo braço para me tirar dali. Eu gritei que não!!! Um enorme e sonoro grito: “NÃO”!

E, então, entra o Dr.Álvaro, com os olhos arregalados. Deve ter se assustado com o grito.

Nesse momento, quando tive que abrir os olhos e encarar o mundo exterior e as pessoas, me perdi. Comecei a chorar, fiquei nervosa. Álvaro pediu para que eu subisse na cama para ele me avaliar.  Eu chorava porque não queria ir, mas fui. Ele respirou e falou: “coloca a mão, Louize. Tá sentindo? É o cabelo do Luiz Fabrício. Você está com 9 cm, mas tem uma bordinha de colo ainda. Peguem uma cadeira de rodas para ela, por favor”. E a enfermeira veio correndo com uma maca.

Drogas
Já a caminho do centro cirúrgico, de maca, depois de mais uma contração, entre urros, pedi para o médico:

– Doutor, eu quero drogas!!!

– Que é isso, Louize???, falou o Dr. Álvaro.

– Doutor, eu quero drogas! Cadê o homem das drogas???

– O anestesista??? – disse ele.

Chegando ao centro cirúrgico me deram a analgesia em um intervalo minúsculo entre duas contrações. Recebi o alívio da dor. Mas analisando hoje, friamente, não era a dor, era o desespero. Pedi analgesia de desespero. Eu estava fora do meu mundinho que fiquei no trabalho de parto. Se tivesse ficado no quarto, quietinha, poderia parir sem anestesia. Mas não posso dizer que sou puro arrependimento pelo pedido da analgesia, pois consegui focar novamente no trabalho de parto.

A Sindri falava: “cadê o pai?”, a enfermeira falava: “Louize, faz força”. Foi então que me toquei: ”como assim?  Cadê o pai?” Trouxeram o Fabrício.

Realização do meu sonho
Em poucas forças e uns 30 minutos, o Luiz Fabrício coroou. Coloquei a mão em sua cabecinha, morri de amor! Ele estava ali, a uma força do meu abraço! E então ele veio para o meu colo, chorando para o mundo todo ouvir: “Eu cheguei!”. Esse foi o momento mais importante da minha vida. Meu filho estava em meu colo, eu o segurava e o beijava. Eu estava extasiada, completamente realizada. Meu sonho estava realizado. Chorei de emoção, realização, deslumbrada, “ocitocinada”! Relaxei… Relaxei tanto que esqueci que tinha mais uma para parir. Besteira? Não, pura verdade! Esqueci que tinha a Sarah ainda por vir.

É mesmo, são gêmeos!!!
Depois de uns minutos começaram a me perguntar se eu não ia parir a Sarah. Eu fazia força, mas mesmo anestesiada sentia uma dor do lado esquerdo, que era onde ela estava. Eu não a sentia descer, fazia força, mas parecia que não adiantava nada. Passou mais de uma hora e nada de a Sarah vir.

Então a Sara começou a apresentar baixa dos batimentos cardíacos (Bradi). O doutor não parava de auscultar os batimentos dela e pedia para eu fazer força nas contrações. Eu não entendia bem o que acontecia, mas sabia que algo estava errado, pois ele estava com cara de preocupado. A doula e a enfermeira também.

A Fé
Acho que coração de mãe não se engana nunca mesmo! Consegui manter a calma o tempo todo. Eu sabia em meu íntimo que ela ficaria bem, que tudo ficaria bem! Eu perguntei se dava para usar o fórceps ou o vácuo e o médico explicou que ela estava muito alta, que não dava. E ela tinha que nascer naquele instante! Ele me pediu para estourar a bolsa e eu autorizei. “Louize, na próxima contração quero que você faça uma força para jorrar líquido no aparelho de raio-x lá na parede!”.

Não sei o porquê, mas todos tiraram suas luvas e nesse momento a contração veio. E então, a Sarah não nasceu, e sim, estreou em seu primeiro show!!! Nasceu em uma força só, saiu tão forte que ficou na beiradinha da cama, quase caindo. Todos se olharam e de repente o obstetra falou: “Pega! Pega a sua bebê!”

Vi que ela não respirava e comecei a esfregar as suas costas. Dr. Álvaro colocou as luvas e verificou que o cordão ainda pulsava. Esfregou ela também. O líquido amniótico saiu de sua boca e nariz. Ele cortou o cordão e a levou para o pediatra atender, enquanto o pai andava de um lado para o outro, realmente preocupado. E eu, tão tranquila, até esqueci de pedir para ele tirar fotos.

Dr. Álvaro voltou quando ela respirou sozinha, veio falando que estava tudo bem. E então chegou o pediatra, Dr. Frauzemar, com Sarah nos braços, me mostrando a menina mais linda que eu já conheci.

 

UTI
Como os gêmeos nasceram prematuros, com 33 semanas e 3 dias de gestação, tiveram que ficar na UTI.

Luiz Fabricio nasceu às 14h15, com 44cm e 2020kg – 6 dias de uti.
Sarah nasceu às 15h28, com 42cm e 1895kg – 2 dias de oxigênio – 11 dias de UTI.

Sarah recebeu alta no dia das mães. <3

Hoje sou uma mulher muito mais forte e realizada.  Renasci em cada um dos partos.

 

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