Relato de Marina Belomo

A Beatriz é uma criança muito amada e esperada desde o dia em que descobri que estava grávida. Abri o teste de gravidez ainda durante o expediente de trabalho. De um dia para o outro, essa nova vida se tornou o motivo dos meus pensamentos mais profundos.

 

A gravidez

Cuidei da gravidez com o maior amor do mundo. Procurei aliviar o estresse e troquei o salto alto pelo conforto. Gastei horrores com os melhores cremes antiestrias do mercado. Entrei na hidroginástica. Passei a levar almoços supersaudáveis ao trabalho e deixei de comer na rua. Salada em restaurante? Preferia legumes cozidos. Carne crua? Nem pensar. Refrigerante e café? Esqueci que existiam. Passei a seguir todas as melhores páginas sobre maternidade, comprei livros, troquei ideias com muitas mães de recém-nascidos, tirei muitas e muitas fotos.

E assim foi. Só pensava nela. Via a Beatriz em todas as crianças na rua. “Será que ela vai ser assim?”. Passei a admirar outras grávidas (e a dar valor às pessoas que cedem o lugar para elas na fila do mercado, do restaurante e da farmácia). Era um estado de graça constante, nada era mais importante que isso. Até hoje eu acredito que é o momento mais sublime na vida de uma mulher.

Quanto mais o tempo passava, mais eu me informava sobre toda a mudança que estava acontecendo comigo. Foi então, que às 32 semanas de gestação, decidi trocar de médico…

 

A troca de médico

Poucas mães de primeira viagem têm certeza do que querem para o parto no início da gravidez. Eu era uma dessas mães que não conhecia esse universo. Para mim, tanto fazia no início. O tipo de parto não era minha prioridade.

Às 30 semanas de gestação, comecei a entender sobre os tipos de parto (sim, eu sei, foi um pouco tarde… mas eu não me importei com isso até então). Quanto mais eu lia, mais eu entendia o quanto era importante deixar a natureza agir. Às 31 semanas tive minha primeira conversa com o meu obstetra (até então) sobre parto. Saí chorando.

“Só atendo em duas maternidades. Uma delas não tem anestesista de plantão. Se você entrar em trabalho de parto de madrugada e precisar de uma cesárea de emergência, por exemplo, precisará esperar até 7h da manhã, horário em que o anestesista chega. Na outra maternidade não é possível tomar anestesia porque eles são contra. Então, se você quiser parto normal, tem que ser sem anestesia. Mesmo que você queira diferente, não tem como”.

Nunca me senti tão enganada na vida. Não havia respeito. Passei a ter a certeza de que a Beatriz viria ao mundo no momento que ela decidisse. Comecei a pesquisar. Vi que dados da Fiocruz apontam que 70% das brasileiras que desejam parto natural no início da gravidez não são apoiadas em sua preferência. Isso explica o porquê do Brasil ter a maior taxa de cesarianas do mundo! De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a taxa em países desenvolvidos fica em torno de 15%. Na rede de saúde privada do Brasil, 88% dos nascimentos são cesárias.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) relaciona diretamente o alto índice de bebês prematuros com o alto índice de cesarianas antes da completa maturidade fetal e isso é uma das principais causas de mortalidade de recém-nascidos e gestantes. 35% dos bebês nascidos por cesariana na 38º de gestação são considerados prematuros (pois podem estar com apenas 36 semanas no cálculo real). E, para completar, dados do Ministério da Saúde indicam que a cesariana aumenta em 6 vezes o risco de morte da mãe se comparado ao parto normal.

Bom… com tudo fervilhando na cabeça, não consegui dormir. O que eu faria agora? Ou eu fechava os olhos e deixava o médico dominar a situação ou me tornava protagonista da minha história.

Escolhi a segunda opção.

Por recomendação de uma amiga, irmã da doula Patrícia Bortoloto, conheci o Dr Carlos Miner. Com medo de ser tarde demais, perguntei: “Mas você aceita acompanhar minha gestação a partir de agora? Já estou com 33 semanas!”. Ele disse: “Claro! Já tive pacientes que vieram aqui com 39”. Ok, meu caso não era o pior de todos.

Ali sim, muita coisa passou a fazer sentido. Fui acolhida. Dr Carlos me explicou tudo sobre os diferentes tipos de parto. Disse que faria cesárea sim, mas somente se fosse necessário. Respeitaríamos o momento da Beatriz. Esperaríamos ela estar 100% pronta e formada para vir ao mundo. Nesse momento, passei a ter uma Doula (até então eu não fazia ideia do quanto isso representaria, assunto para um outro texto inteiro!).

Escolhi a maternidade com calma, optei por aquela que deixaria meu marido participar do trabalho de parto. Sem ele eu não queria. Foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado na vida. Beatriz nasceu cercada de amor e respeito.

 

Nascimento Bia

 

Dilatação sem trabalho de parto

Já havia duas semanas que eu estava com dilatação. Às 38 semanas, durante uma consulta de rotina, o novo médico disse para minha surpresa: “você já está com 3 centímetros de dilatação. Parabéns! Muitas mulheres levam horas pra chegar a esse ponto”. “Mas o que devo fazer?”, perguntei ao doutor. “Nada”, disse ele. “Vá pra casa, fique tranquila, quando as contrações regulares começarem você saberá que é hora de ir para a maternidade”.

Às 39 semanas, a dilatação aumentou para 4 centímetro.  Às 40, nada de evolução. Liguei para Patrícia. “Estou preocupada… não tenho sinais de evolução. “É assim mesmo!”, disse ela. “Muitas mulheres ficam dias sem sentir nada, até que, em uma madrugada qualquer, o bebê resolve nascer. Não tenha pressa, tudo tem seu tempo, a Beatriz também”.

Às 40 semanas e 2 dias, num sábado, cuidei muito do jardim da minha casa. Mal conseguia levantar sozinha, tamanha era a barriga que eu carregava ali. Mal sabia eu que faltavam poucas horas para eu e Beatriz nos conhecermos pessoalmente…

 

Trabalho de parto

Eram 4h30 da manhã quando aquela cólica forte me acordou. Virei de lado. Minutos depois, mais uma. A próxima veio em seguida. Fui para o chuveiro quente. Aumentou! Liguei para Patricia. Já eram 5h da manhã, resolvi acordar meu marido: “Rafa, a Beatriz vai nascer”.

 

Chegou a hora

Não conseguia colocar a bolsa de água quente, não conseguia mais ficar deitada, as cólicas com contração eram muito intensas. Deitada elas não paravam. Em pé iam e vinham num intervalo de 5 minutos. “Chegou a hora de ir para a maternidade”, orientou a doula.

Levamos 20 minutos para chegar à maternidade, quando chegue lá, a surpresa:  “7 para 8 de dilatação”. Vibrei! O dia havia chegado! Agora sim eu tinha a certeza de que Beatriz queria nascer. Quanto amor eu senti naquele momento. Cada contração me fazia sentir mais perto de ter ela em meus braços. Não havia medo. Não havia receio algum do que estava para acontecer. Só amor, um amor verdadeiro que crescia a cada minuto.

Patrícia, a Doula, chegou. Entrou na sala e começou a me ajudar a cada contração. Agachávamos juntas, de mãos dadas, cada vez que as dores vinham. Nesse momento a cólica era frequente, não passava entre uma contração e outra. Nem cheguei a ir para o quarto para esperar o trabalho de parto avançar. A sala de parto não era uma sala enorme, daquelas com uma luz fria, cheia de equipamentos apitando. Não. Era uma sala pequena, suficiente para nós 5 – eu, Rafa, Dr. Carlos (o médico), Patrícia (a Doula) e, claro, Beatriz.

Patrícia apagou a luz. “Fica melhor para você relaxar”, disse ela. E ficou mesmo. Nesse momento eu já estava deitada. De um lado, Patrícia segurando minha mão. Do outro, o Rafa, pai e marido, companheiro do início ao fim. O que fazíamos nesse momento? Acredite se puder, jogávamos conversa fora.

Dr Carlos chegou e entrou no bate-papo. Falávamos de nomes de filhos, de cinema, Dr. Carlos pegou o celular dele e orgulhoso mostrava seu filhinho pequeno dançando as músicas da Galinha Pintadinha no cinema.

Quanto mais distraída, mais relaxada, mais minha Beatriz se aproximava do mundo aqui de fora. “9 de dilatação”, disse o Dr Carlos. Estava muito perto! O último centímetro dilatou no momento do rompimento da bolsa de águas. “Vou precisar romper sua bolsa” disse o médico.

Rafael ganhou uma almofada para empurrar minhas costas. Força. Muita força. E, então, eu ouvi o choro. Era o primeiro choro. Cordão ainda pulsando, ela veio pros meus braços. O choro por um instante parou. “Filha, mamãe está aqui para cuidar de você. Seja-bem vinda ao nosso mundo, meu amor…”. Ali não havia mais nada, só o amor. O amor mais forte que pode existir. Tudo era silêncio. Nós três nos abraçamos, pai, mãe e filha. Emoção, amor, felicidade. Um momento que valeu uma vida.

Bia BelomoBia Belomo

E hoje?

Ter minha opção respeitada me possibilitou viver o momento mais lindo e intenso da minha vida. Não consigo imaginar não ter passado por essa experiência. O que eu sempre digo é: informe-se, seja a protagonista de sua história, não antecipe o que a natureza é encarregada de fazer. Ela é muito sábia!

 

Beatriz Belomo Trindade nasceu no dia 25/08/2013, às 10h20, na Maternidade Curitiba, com 3.100Kg, 50cm, num parto lindo, cercado de amor. Papais Marina Belomo e Rafael Trindade renasceram pela primeira vez neste dia.

 

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