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Contrações: entenda os tipos e saiba quando ir para a maternidade

Nem sempre as contrações são um indicativo de trabalho de parto. Além disso, elas podem aparecer algumas vezes durante a gestação. Saiba como identificá-las.

Por Texto Andressa Basílio – Revista Crescer

Tudo começa com um enrijecimento no fundo da barriga, que progride para a pelve, em processo de abertura. Muitas vezes, a sensação vem combinada com pontadas na vagina e dor irradiada para a lombar, os ossos do púbis e até a parte interna da coxa. São respostas das mudanças no colo do útero, que se prepara para o nascimento do bebê, provocadas pelo estiramento do músculo e por estímulos hormonais.

Essa série de movimentos corporais são as famosas contrações específicas do fim da gravidez, um anúncio de que o parto está realmente chegando. Foram elas que fizeram com que a bancária Valquíria Dietrich, 35 anos, em março de 2016, com 38 semanas de gestação, distinguisse que as dores que a despertaram em uma certa manhã estavam bem diferentes das que tinha sentido ao longo da gravidez, e que o filho Arthur estava a caminho. “Eu vinha me preparando para esse momento e já havia tido contrações antes, mas não tão fortes como essas”, relembra.

“A barriga endurecia e, após alguns segundos, voltava ao normal”, conta. Ela não teve dúvidas e correu para o hospital. Como não tinha dilatação, voltou para casa e precisou suportar as contrações, cada vez menos espaçadas, por mais um dia inteiro até que seu filho finalmente nascesse. “Nos últimos dias da gestação, há a liberação de duas substâncias químicas que atuam como aceleradoras do parto: a prostaglandina, que dilata o colo do útero, e a ocitocina, que o contrai”, explica a ginecologista e obstetra Priscila Cury, da Maternidade Pro Matre Paulista (SP).

Apesar de esse ser o caso mais comum da contração (de quando o parto se aproxima), ela pode aparecer muito antes, ainda no segundo trimestre de gravidez. O fenômeno, que começa a ensaiar o útero para o trabalho de parto e ajuda a posicionar o bebê de cabeça para baixo, é chamado contrações de treinamento ou de Braxton Hicks (em homenagem ao médico inglês John Braxton Hicks, que as descreveu pela primeira vez em 1972). Essas também têm um perfil próprio: são relativamente curtas, com duração de 15 a 30 segundos. “Diferente das contrações de trabalho de parto, que são longas e ritmadas, as preparatórias são breves e descompassadas. A mulher sente uma agora, outra dali meia hora, depois passa dias sem notar mais nada”, afirma a ginecologista e obstetra Luciana Cima, do Grupo Perinatal (RJ).

Outra característica – e boa notícia –  é que o enrijecimento da barriga nesse caso não vem acompanhado de dor. Por causa disso, algumas gestantes, especialmente as de primeira viagem, só percebem o que está acontecendo ao apalpar a barriga. Porém, quando surgem dores nessa época da gestação, é motivo de alerta. A auxiliar administrativa Najla Caroline Santos, 22, sentiu a primeira contração na 26ª semana de gravidez. “As sensações eram tão intensas que corri para o hospital achando que meu bebê ia nascer. Tive um pouco de sangramento, o que me assustou bastante”, diz. Com os exames, descobriu que o bebê estava bem, mas a gestação era de risco, já que o corpo dela produzia pouca progesterona, o que aumentava o perigo de aborto. A partir daí, todas as suas contrações eram muito intensas e tinham de ser acompanhadas por ultrassonografia. Felizmente, Zion Gabriel nasceu saudável e acaba de completar seu primeiro ano de vida. “As contrações preparatórias são normais e esperadas, mas, se a paciente nota que elas vêm com muita frequência e intensidade, se há dor envolvida, sangramento ou perda de líquido, deve relatar ao médico imediatamente”, orienta Luciana.

Não se assuste também se, após a relação sexual, você sentir contrações. Isso acontece graças à liberação de ocitocina no corpo pelo orgasmo ou estimulação intensa dos seios. Se a gravidez não for de risco, a prática é normal e não há chance de desencadear o parto prematuro – e   não prejudica o bebê.  Na gravidez do segundo filho, a professora de Educação Física, Viviane Viana, 35, mãe de Arthur, 7, e Clarisse, 4, sentia contrações todas as vezes que tinha relação com o marido, o que começou no quarto mês de gestação. “No início, ficava com muito medo, e cheguei a ir diversas vezes para o hospital. Mas meu médico pediu que eu ficasse tranquila. E realmente não influenciou no nascimento da minha filha”, diz.

Para aliviar qualquer desconforto ao sentir esses movimentos corporais de “treinamento”,  mude de posição – procure deitar e relaxar, se estiver de pé; ou levantar e caminhar, se estiver sentada. Massagem na região da lombar e da pelve também são indicadas. Aproveite esse ensaio para praticar os exercícios de respiração. Inspire devagar contando até três ou quatro e, quando soltar o ar,  faça novamente a contagem. A repetição desse processo ajuda no relaxamento e vai preparando corpo e mente para lidarem com as contrações mais intensas que virão adiante.

 

É HORA!

Uma vez identificada a contração (na dúvida, fale sempre com o seu médico), como saber quando ela marca, de fato, o início do trabalho de parto? Essa é talvez a principal dúvida das gestantes. A resposta, no entanto, é tão simples quanto prestar atenção na fase inicial da movimentação. E aí entra uma conta simples. “O que mais importa é o ritmo. Se a gestante tem cerca de três contrações de 40 segundos a um minuto a cada dez minutos, e esse ritmo se mantém por um período de duas horas, ela está entrando em trabalho de parto ativo”, explica o obstetra Paulo Nowak, da Associação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp). Existem alguns aplicativos que fazem todo o trabalho para você e ainda guardam um histórico das suas contrações, como o Gravidez.Sprout e o Gravidez +.

Ainda assim, ao chegar no hospital, pode ser que você não tenha dilatação suficiente – como aconteceu com Valquíria, citada no começo desta reportagem – e tenha que conviver algum tempo com as contrações. Felizmente, existem algumas técnicas usadas pelos especialistas que também minimizam as dores nessa reta final, que passam por medicação até terapias alternativas, como hidroterapia (banho com água morna na barriga e nas costas para relaxar a musculatura pélvica), musicoterapia (que ajuda tanto em técnicas de respiração como na concentração para diminuir a percepção da dor), livre caminhar durante o parto, hidratação, infusão de chás e até acupuntura. “O melhor remédio ainda é o conhecimento do próprio corpo. Só assim a gestante é capaz de identificar o método de alívio que mais funciona para ela”, defende a doula Samara Barth, professora do curso de gestantes Unimed e fundadora da Casa da Doula, em Itapetininga (SP).

O medo e a ansiedade geram tensão muscular e aumentam a dor, que também depende da sensibilidade de cada mulher. Por isso, o conforto físico e psicológico é fundamental. “Quanto mais segura a mulher se sentir, mais fluido será o parto”, diz. Portanto, respire (ainda mais!) fundo e foque no principal: logo todo esse incômodo será substituído pela alegria de estar com o seu filho no colo.

 

CÓLICA OU CONTRAÇÃO?

No primeiro trimestre de gravidez, a cólica é frequente. Isso acontece principalmente por causa da implantação do saco gestacional, que está invadindo a parede do útero. “Sempre que um órgão tenta colocar alguma coisa para fora, ele está dilatando e não contraindo. A cólica nada mais é do que a dilatação em resposta ao crescimento do útero”, explica o obstetra Paulo Nowak, da Sogesp.

Diferente da contração, que só acontece depois da 26ª semana, as cólicas podem acompanhar as gestantes ao longo de toda a gravidez e, nas fases mais iniciais, é possível que venham com um pouco de sangramento. Nessa fase, as conversas com o médico e a ultrassonografia transvaginal são valiosas para nortear a evolução da gravidez.

Vale lembrar que existe também uma lista de coisas que podem confundir você a respeito das contrações: distensão abdominal por gases, cólicas, retenção urinária, lesão pélvica e, no início da gestação, gravidez ectópica (que ocorre fora do útero e pode trazer dor abdominal e pélvica) e até mesmo a movimentação do bebê. “O endurecimento isolado da barriga ou a dor sem endurecimento não é contração. Além disso, ela sempre acontece no útero inteiro”, esclarece Nowak.

 

NO BALANÇO DAS HORAS

Abaixo, dicas que ajudam você a diferenciar as contrações durante a gravidez

Contrações de Braxton Hicks
Curta duração: de 15 a 30 segundos
Descompassadas e ocorrem poucas vezes por dia
Geralmente são indolores
Contrações de trabalho de parto
Longa duração: de 40 segundos a um minuto
Mantêm ritmo constante, que começa com cerca de três a cada dez minutos e vai aumentando a frequência conforme o parto se aproxima
Provocam desconforto e dor

 

Em caso de dúvidas, procure sempre o seu médico!

 

Grupo Nascer

 

Fonte: Revista Crescer atualizada em 30/08/2017.

Imagem: Jgi/Jamie Grill/Getty Images.

 

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