gêmeos pélvicos

Relato de parto de gêmeos pélvicos (sentados)

Relato de Sayara Zacharias Noto, paciente do Dr. Carlos Miner, do Grupo Nascer.

Olá pessoal, sou a Sayara, mãe do Enzo de 2 aninhos e da Alice e do Noah, de 12 dias.

Desde que engravidei do Enzo em 2015, já pensava muito sobre o parto normal. Fiz todo o meu pré-natal com meu antigo ginecologista, que já era meu médico tinha mais de 10 anos. No entanto, conforme os meses foram passando, fui percebendo que ele me levaria a uma bela cesárea caso continuasse me atendendo. Conforme a gestação avançava, fui me informando cada dia mais, lendo relatos na internet, buscando matérias e estudos sobre o parto normal, assisti ao Renascimento do Parto…enfim, fui me empoderando.

Motivos para uma cesárea?
A cada consulta eu mencionava da vontade de ter um parto normal e livre de intervenções e ele sempre me falava:

1. Você é primípara, será mãe de menino, então provavelmente ele nascerá com 38 semanas (oi?);
2. Eu aceito fazer parto normal mas sem dor (mas quem teria que definir se queria sentir dor ou não seria eu, certo?);
3. Eu faço parto normal somente com anestesia… entre outras coisitas mais.

A troca de obstetra
Eis que com 35 semanas eu eu resolvi procurar uma equipe de parto humanizado. Iniciei conversando com a doula Patrícia Bortolotto, até que consegui uma consulta com o Dr. Carlos Miner Navarro. Na primeira consulta já falei das minhas vontades e ele passou a ser o meu obstetra desde então.

O primeiro filho
O Enzo nasceu de 41+3. Estava com pródromos fazia 5 dias e as contrações não ritmavam. Fui para a maternidade já muito cansada, com dor em todo o corpo, principalmente na lombar, o trabalho de parto se estendeu por horas e até hoje não sei como aguentei, fiquei dias sem dormir e não encontrava mais posição para ficar por causa da dor nas costas. Mas resumindo, Enzo nasceu lindo e gordo, de parto normal, pesando 3.470kg e medindo 51cm. Não sofri nenhum outro procedimento: episio, analgesia, nada! Apesar de demorado e difícil, foi um parto muito respeitoso.

Grávida de gêmeos!
Logo após o nascimento dele, meu marido e eu já decidimos ter outro filho com 2 anos de diferença. Eis que em 2017 eu engravidei novamente e de gêmeos (que suuuuuuuusto!!!!), sempre quis ter um casal de gêmeos, mas depois que o Enzo veio, isso simplesmente ficou fora de cogitação. Depois do susto veio a alegria de ter 2 ao mesmo tempo. Durante toda a gestação o medo, a ansiedade e a alegria tomaram conta de mim! Graças a Deus dessa vez eu já estava com a equipe certa e não tive dúvidas de contratar novamente a doula Patrícia.

Gestação nada tranquila
Minha gestação era di-di. Os meses foram passando, tive sangramento da 12ª até a 19ª semana (sem causa aparente), logo depois meu tampão começou a sair…enfim, não foi uma gestação fácil e tranquila como a do Enzo. Sem falar que eu tenho um liquidificador com a tampa aberta em casa (sim, o Enzo rsrsrs), que pirouuuu minha cabeça durante esses 9 meses. Com 30 semanas minha G1 estava pélvica e o G2 cefálico. Na semana seguinte ambos estavam sentados e dessa posição não saíram mais.

Parto normal de bebês pélvicos (sentados), é possível?
Meu médico super aceitou realizar o parto assim, sentados, desde que ele fosse rápido e tudo andasse dentro dos conformes. Ele também me explicou de todos os riscos e tudo mais que eu precisava ouvir para me empoderar mais uma vez. Mas…. Jesus amado, não encontrava nada na internet sobre parir 2 bebes pélvicos, só encontrava relatos onde o G1 estava cefálico e o G2 virou na hora do parto e também ficou cefálico.

Rezando diariamente pra que tudo ocorresse bem, cheguei à 37ª semana com muitos pródromos: contrações e dores na lombar que só melhoravam com bolsa de água quente, enjoo, tampão saindo aos montes…enfim, fiquei com muuuuuito medo de passar por tudo que passei na gravidez do Enzo. Aquela dor na lombar me tirou o foco do parto e eu tinha pavor só de lembrar.

Por causa disso, como já estava com 7cm de dilatação já fazia 3 semanas, e com todas essas dores, com 38 semanas (dia 14/06) resolvi fazer um descolamento de membrana pra ver se entrava em trabalho de parto naturalmente.

Na mesma noite, comecei a ter contrações a cada 15m, depois a cada 10m…pensei: oba, é hoje!!! E assim foi por mais de 1h, até que elas simplesmente espaçaram e pararam. Pensei comigo: de fato eu não sou boa parideira, que coisa mais difícil de engrenar.

Apoio do Grupo Nascer
Eis que no outro dia, após muuuuitas contrações doloridíssimas, resolvi ir pra maternidade e induzir o parto no dia 15/06, com 38+1. A maternidade foi a mesma do parto do Enzo, chamada Maternidade Curitiba, a qual possui um grupo chamado Nascer, que conta com 4 obstetras humanizados, dentre eles o Dr. Carlos, que é o meu obstetra (maravilhoso, um parteiro de primeira, super competente e habilidoso), a Dra. Juliana Chalupe, que pediu para assistir ao meu parto, o Dr. Álvaro, que acabou aparecendo no dia e eu deixei assistir ao parto também e a Dra. Camile. Foi ótimo ter 3 obstetras super queridos e me apoiando tanto numa hora dessas.

Gêmeos sentados querendo chegar!!!
Cheguei lá por volta das 16h, a indução (com soro e ocitocina) começou a ser feita perto das 18h30 na suíte de parto, que é um quarto próprio para parir, contando com banheira, banqueta, cama adaptada, bola, berço aquecido, etc., mas se a gestante opta por analgesia, tem que ir para o centro cirúrgico.

Às 19h meu médico fez um exame de toque e eu estava com quase 9cm de dilatação. Fiquei mega feliz e acreditei que em menos de 1h teria meus bebês no colo, mas as coisas não foram bem assim.

Comecei a sentir contrações mais doloridas, mais ritmadas e em menos tempo, mas ainda estava conseguindo me concentrar bem, conversar e até comer uma pizza que meu marido pediu para descontrair o ambiente rsrs. Ficava mexendo meu quadril de um lado para o outro e também ficava sentada na bola. Perto das 21h senti uma vontade enorme de fazer força. Os 3 obstetras entraram na sala junto com o pediatra. Achei que o momento expulsivo fosse começar. Mas foi apenas uma vontade de fazer força, que assim como veio do nada, acabou indo embora.

Monitoramento contínuo
Para ter certeza do que estava acontecendo com meu corpo e com os bebês, meu médico nos monitorava o tempo todo e por isso, resolveu fazer mais um toque pra ver como estava a evolução e para a minha infelicidade, eu ainda estava com os mesmos quase 9, minha G1 estava alta e ainda tinha colo de útero. Ai que desespero, fiquei transtornada, já estava há 3h sentindo muita dor e saber que não tinha evoluído nada me deixou desolada (e ainda mais cansada).

Fiquei sem esperanças, eu precisava terminar de dilatar e ao mesmo tempo que sabia que faltava tão pouco, parecia que faltava muito. Perguntei ao médico quais opções eu teria: ele disse que eu podia tentar dilatar naturalmente, tomar analgesia pra relaxar o colo ou, em último caso, partir para uma cesárea.

Incentivo e apoio para acalmar o desespero
Minha doula sugeriu então que eu fosse pro chuveiro pra tentar dilatar. Fiquei sabe Deus quanto tempo sentada na banqueta com a água caindo nas minhas costas. Balançava o corpo de um lado para o outro e a cada contração eu me abaixava e fazia uma força pra Alice descer mais. Só que nesse momento as contrações simplesmente começaram a espaçar, o que me deixou ainda mais nervosa. Eu fiquei muito triste e achando que fosse ter que tomar uma atitude mais drástica para ter meus bebes nos braços. A Dra. Juliana e a minha doula ficavam me incentivando o tempo todo, falando frases de apoio, me ensinando posições…e meu marido, também muito preocupado, ficava na porta do banheiro me dando o maior apoio… e eu ali, desolada e muito nervosa.

Quando vi que as contrações não iam voltar a ritmar, resolvi sair do chuveiro e voltar pra bola e também pedi que aumentassem um pouco a quantidade de ocitocina.

E cantei e eles nasceram!
Esse momento para mim foi mágico: todos saíram da sala, inclusive meu marido, minha doula deixou a luz bem baixinha e disse: vamos cantar? Você gosta de que tipo de música? Eu falei que adorava a “Trem bala” e a “Promete” e que inclusive tinha pedido pra uma das madrinhas do Enzo fazer um quadrinho com a letra da “Promete”, que eu queria dar para o Enzo de presente.

Cantei ela inteirinha, bem alto…quando comecei a cantar a “Trem bala”, não sei porque veio o Enzo na minha cabeça, o parto dele, o rostinho, o bebe gordo e maravilhoso que eu tinha em casa…a emoção tomou conta de mim, veio uma vontade chorar. Só estava eu, minha doula fazendo massagem com óleo nas minhas costas, toda aquela emoção tomando conta do quarto, eu sentindo muito a presença do Enzo e das minhas ancestrais que foram parideiras de primeira, minha avó pariu muitos filhos em casa e minha avó era parteira na cidade.

A música alta, eu cantando mais alto ainda, veio uma contração enorme, eu me abaixei segurando na cama e tchanannnn…minha bolsa estourou com tudo. Líquido clarinho. Que alegria!!!! A partir desse momento só deu tempo de subir na cama para a última eco, em seguida fiquei de 4 apoio e comecei a fazer força.
Foram algumas boas contrações e a Alice com o bumbum pra fora, ela subia e descia (vi tudo isso pelo vídeo que a obstetra gravou).

Até que as perninhas saíram e já começaram a mexer…depois o ombrinho e braços e por último, como ela já estava ali a quase 10m, meu médico fez uma manobra para tirar a cabeça.

E assim ela nasceu, às 22h51m, linda, chorando forte e veio direto para os meus braços, pesando 2.820kg e medindo 48 cm. Eu estava radiante!!! A abracei forte, desejei os parabéns e repeti muitas vezes que ela havia conseguido (e eu também!). Cordão parou de pulsar e o papai cortou.

Ela ficou comigo por uns 10m, depois foi para o pediatra avaliar ali mesmo, do meu ladinho. 11 minutos se passaram e às 23h02 veio o Noah, que com apenas 2 forças, nasceu empelicado e junto dele já nasceram ambas as placentas. Ele pesando 2.430kg e também medindo 48 cm (divergindo de todas as ecografias realizadas, que apontavam que ele era pelo menos 150g maior que ela).

Após terem ido ao berçário para medir e pesar, voltaram para os meus braços e mamaram muito.
Em seguida tomei um banho e fomos para o quarto. Ficamos 2 dias internados e viemos para a casa.

Amamentando três!
Ainda amamento o Enzo que tem 2 ano e 2 meses, amamentei durante a gestação inteira dos gêmeos e hoje amamento os três. O Enzo mama só pela manhã, mas ainda aproveita bastante o tetê da mamãe. Ou seja, é possível sim amamentar o mais velho, mesmo grávida.

Agradecimentos
Gostaria de fazer um agradecimento especial à minha mãe, que cuidou do meu pequeno Enzo com todo o amor e carinho do mundo juntamente com a dinda Bre (dinda especial e querida), enquanto estávamos na maternidade. Aprenderam na marra a dar banho, escovar os dentes, dar café da manhã e a controlar o “bichinho” nas horas do ciúme rsrsrs. Aproveitei bastante ele quando ia nos visitar e na hora de ir embora, ficava com meu coração de mãe tranquilo, pois sabia que estava sendo bem cuidado e amado.

Ao meu esposo, amigo, companheiro e paizão Fabio…meu “doulo” durante essas 2 gestações. Acreditou na minha força e nos nossos bebês. É a pessoa mais positiva e otimista que eu conheço na vida. Homem corajoso e forte (não é para qualquer um assistir a um parto, ver a mulher sofrer, cortar o cordão umbilical do seu filhote), obrigada por existir e ser esse “apapai” maravilhoso que só você sabe ser! Te amamos demais!

Dra. Juliana Chalupe me ajudou muito, sempre motivando e passando muita energia positiva.
Dr. Álvaro ajudou muito na hora do expulsivo da Alice.
Dr. Frauzemar, pediatra querido e super humanizado.
Dr. Carlos Miner: meu obstetra querido, será lembrado para a vida inteira com muito carinho. Um pai, um parteiro, um humano maravilhoso. Respeita a opinião da mulher, não chega impondo a sua vontade, passou a gestação inteira até o nascimento deles perguntando o que eu queria, qual era a minha sugestão. Pessoal, estamos no Brasil, onde o índice de cesáreas desnecessárias é absurdo. Encontrar um médico que te pergunta qual é a sua sugestão, é a coisa mais rara e mais preciosa do mundo. Lidar com uma pessoa que ama a profissão e a exerce com excelência, é libertador! Ele confiou em mim e me repetiu a gravidez toda: você sabe parir! Você já pariu antes e agora sabe o que fazer. Obrigada por aceitar assistir o meu parto, por me ajudar a parir 2 bebes pélvicos e juntos, irmos contra todo um sistema.

Patrícia Bortolotto: minha doula maravilhosa, como você me ajudou nesse parto. Cada frase que você me falou vai ecoar para sempre em meus ouvidos. Sua mão acolhedora me fazendo massagem, seu jeito calmo de me ensinar as melhores posições para dilatar…toda a sua confiança em mim. Obrigada pela linda profissão que exerce e por ter a energia que tem!

Deus, muito obrigada por me permitir um parto abençoado, do jeito que eu sonhei, dando a luz para 2 bebês saudáveis os quais eu pude pegar no colo e sair da maternidade com eles. Trazer o(s) filho(s) pra casa depois de 2 dias, não tem preço no mundo que pague. Muito obrigada.

Espero que esse relato sirva para encorajar outras mães a lutarem pelos seus partos, a se informarem, a irem contra esse sistema cruel de nascimento. Confiem em vocês, se informem, se empoderem, confiem na natureza e em seus corpos e principalmente, procurem a equipe certa.
Um beijo a todas e desculpem o enorme relato!
Sayara

Dr. Carlos Miner, em abraço respeitoso após o nascimento dos gêmeos.

 


Dr. Frauzemar (pediatra), Dra. Juliana Chalupe. Dr. Carlos Miner, Patricia Bortolotto (Doula) e Dr. Alvaro Silveira Neto junto ao casal Sayara e Fábio, e os bebês.

Grupo Nascer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *