trabalho de parto

Trabalho de parto: por que esperar? – Grupo Nascer

A maneira mais precisa de se saber se uma criança está pronta para nascer é esperar que ela mesma dê o alerta. Quando o bebê está pronto, o trabalho de parto se inicia espontaneamente e pode resultar em um parto normal – quando tudo corre bem – ou em uma cesariana, caso seja necessária uma intervenção cirúrgica.

O trabalho de parto é benéfico para a mulher e o bebê. Nesse momento, por exemplo, são liberadas substâncias que ajudam no amadurecimento final do organismo da criança, como o hormônio corticoide, que age no pulmão. Para a mulher, o trabalho de parto ajuda também a liberar hormônios importantes, que vão prepará-la para a amamentação.

 

Os riscos de não esperar o trabalho de parto

Bebês nascidos antes do trabalho de parto espontâneo estão mais sujeitos a problemas de saúde

Estudos conduzidos nos últimos anos mostram que cada semana a mais de gestação aumenta as chances de o bebê nascer saudável, mesmo quando não há mais risco de prematuridade. As últimas semanas de gestação permitem maior ganho de peso, maturidade cerebral e pulmonar.

Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, em 2012, 35% dos bebês analisados nasceram entre a 37ª e a 38ª semana de gestação. Embora não sejam consideradas prematuras, estudos demonstram que essas crianças – aparentemente saudáveis – são mais frequentemente internadas em UTI neonatal, apresentam problemas respiratórios, maior risco de mortalidade e déficit de crescimento.

O grande número de nascimentos entre a 37ª e a 38ª semana de gestação está associado ao elevado número de cesarianas realizadas antes do trabalho de parto espontâneo, particularmente no setor privado – onde metade dos partos realizados ocorrem nesse período.

Estudo realizado em Pelotas com bebês nascidos nos anos 1982, 1993 e 2004, relacionaram a idade gestacional dos nascimentos dos bebês com a mortalidade e morbidade nos seus primeiros quatro anos de vida. Os resultados demonstram que tanto os bebês prematuros como aqueles nascidos na 37ª ou 38ª semana de gestação apresentam risco significativo maior de mortalidade e déficit de crescimento, se comparados os bebês que nasceram entre 39ª e 41ª semana.

 

As cesarianas desnecessárias

O Brasil é 2º país no mundo em percentual de cesarianas. Parte delas acontece de forma eletiva, sem fatores de risco que justifiquem a cirurgia e sem esperar o trabalho de parto espontâneo

O Brasil é o 2º país no mundo em percentual de cesarianas. Enquanto a OMS estabelece em até 15% a proporção de partos por cesariana, no Brasil esse percentual é de 57%. Elas representam 40% dos partos realizados na rede pública de saúde. Já na rede particular, chegam a 84% dos partos.

Nos últimos 40 anos, o percentual de cesarianas quase quadruplicou no País, passando de 15% para os atuais 57%. Entre os Estados com maiores índices, estão Goiás (67%), Espírito Santo (67%), Rondônia (66%), Paraná (63%) e Rio Grande do Sul (63%).

Sabe-se que, em uma situação de alto risco, a cesariana pode salvar a vida da mulher, do bebê ou de ambos. No entanto, utilizar a cesariana de forma eletiva – como regra, não exceção – é inaceitável do ponto de vista das evidências científicas.

Um estudo realizado pelo pesquisador Cesar Victora, com base em dados do Sistema de Nascidos Vivos de 2000 até 2012, mostra que o principal público da cesariana no Brasil não são as mulheres em situação de maior risco.

O pesquisador agrupou as mulheres de acordo com a quantidade de fatores de risco a que estavam sujeitas: baixa escolaridade, menos de 20 anos de idade, acesso a menos de quatro consultas de pré-natal, entre outros. Paradoxalmente, a maior frequência de cesarianas foi encontrada em gestantes sem nenhum fator de risco: 75,3% delas tiveram seus filhos por meio de cesarianas. Já entre as gestantes com quatro ou mais fatores de risco, apenas 30,7% foram submetidas à cirurgia.

Além de privar mulher e bebê dos benefícios do trabalho de parto espontâneo, a cirurgia os expõe a riscos e procedimentos desnecessários. Segundo a Organização Mundial da Saúde, há um risco seis vezes maior de complicações graves para a mulher, associadas à cesariana, especialmente quando realizada sem indicação com base em evidências científicas.

Garantir o direito de esperar o trabalho de parto espontâneo é um dos desafios atuais do Brasil para assegurar a sobrevivência e a saúde de mulheres e seus bebês.

Os impactos do nascimento prematuro

Outro ponto de alerta com relação ao momento certo de nascer é o grande número de crianças prematuras no Brasil. Somente em 2014, 332.992 meninos e meninas (11,2% do total) nasceram antes da 37ª semana de gestação no País.

Os números preocupam, uma vez que as complicações relacionadas com a prematuridade são a primeira causa de mortes neonatais e infantis em países de renda alta e média, incluindo o Brasil.

Estudo mostrou que os principais fatores de risco associados à prematuridade são gravidez na adolescência, baixa escolaridade e pré-natal de baixa qualidade. De acordo com a pesquisa, 61% dos nascimentos prematuros analisados aconteceram de forma espontânea. Os outros 39% decorreram de intervenções obstétricas (indução do parto ou cesariana). Destes, pelo menos nove em cada 10 partos foram cesarianas.

A baixa qualidade do pré-natal é um dos fatores cruciais que contribuem com a prematuridade. O País avançou em relação ao acesso – 67% das mulheres fazem sete ou mais consultas de pré-natal ao longo da gestação –, mas a qualidade do atendimento ainda precisa ser garantida.

Fonte: Unicef.

Grupo Nascer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *