Ana Victória Garofani Foganholi

 

Relato de parto de Ana Victória Garofani Foganholi, paciente do Dr. Carlos Miner Navarro. Doula: Patricia Bortolotto.

Quando chegou o dia 20 de março, tinha por aqui uma grávida que achava que estava tendo tudo, menos contrações de verdade. Aquelas dores no pé da barriga nada mais eram que contrações de treinamento, um pouco de cansaço de um corpo 39 semanas grávido e talvez uma dor de barriga, quem sabe né? Era tudo, menos o Gianluca querendo nascer.

A descrença era compartilhada pelo pai e marido Ricardo, que nesse dia estava a trabalho no Rio de Janeiro. Calma, ele voltava na mesma noite, estávamos até de cineminha marcado.

Mas antes, explico o porquê essa descrença toda. Meu primeiro filho, Enrico, que tem quase 3 anos, depois de 42 semanas de gravidez, teve que ser “convidado a se retirar”. Pobrezinho. Primeiro tentamos induzir e, depois de 6 horas, o justo veredito do dr. Carlos Miner era cesárea.

Ao longo da gravidez, se temos um ideal de como gostaríamos de parir, pode acontecer de esquecermos que queremos um filho e não um parto. Depois de muito ficar inconformada, acabei vendo que foi linda a minha cesárea. A única coisa que eu mudaria seria minha ansiedade em relação a parir. Fiquei muito bitolada nisso na 1ª gravidez, então estava tentando fazer diferente na 2ª. Que fosse do jeito que fosse pra ser, e seria perfeito. Eu já tinha feito minha parte, que era escolher um médico que me deixaria ter parto normal, se fosse possível.

Então, às 11h da manhã, começou aquela dor discreta mas chata. Às 12h40 eu avisei a doula Patrícia Bortolotto – que me pediu pra monitorar as contrações – e, na sequência, o Ricardo. O aviso foi num tom de “por via das dúvidas você deveria ver se não tem um voo mais cedo, mas acho que não vai precisar.”

Acontece que as contrações ganharam ritmo muito rápido. Lá pela uma da tarde elas vinham num intervalo de 10 em 10 minutos e às quatro era um intervalo variável de 4, 3 minutos.

Falando em calma, eu até que estava calma. Ainda não achava que eu estava assim, em trabalho de parto mesmo. Não avisei ninguém, não chamei ninguém pra ficar comigo, que eu não queria causar alarde à toa. Na minha cabeça de grávida em negação, cada contração ia ser a última e logo tudo ia sossegar.

Porém, lá pelas 17h eu parei pra pensar que, se na verdade eu tivesse mesmo em trabalho de parto, talvez fosse bom, pelo espaçamento das contrações cada vez mais intensas, eu ir pra maternidade. Talvez assim, né? Quem sabe era uma boa ideia. Dá até uma vergonha de escrever.

Então mandei uma mensagem pro meu marido, dizendo que não podia mais esperar, que ia chamar a minha mãe. Enquanto isso a minha sogra estava indo pegar o Enrico na escola, achando que ia cuidar dele pra gente ir no cinema.

Chamei a minha mãe entre contrações, ou no meio de uma, porque ela veio pra minha casa desesperada.

Terça-feira, seis da tarde, chovendo. Ir de Santa Felicidade até a Maternidade Curitiba não foi tranquilo nem favorável. Loucura total, eu olhando o Waze e guiando minha mãe entre gritos de dor, e ela tentando esconder de mim que achava que eu ia parir no carro. Me fez até ligar pro dr. Carlos e disse pra ele “Estou DESESP…preocupada, ela está com contrações de 2 em 2 minutos!!”.

Não foi no carro, mas se fosse, ia ser um parto chique e sustentável, como o dr. Carlos, sempre piadista, disse depois, já que estávamos numa BMW i3, elétrica. O que não era sustentável era eu, medindo 1,71cm e gigantescamente grávida, tendo contrações naquele carro minúsculo, quiçá parindo.

Chegamos na maternidade, ufa! Logo chega o dr. Carlos pra fazer exame de toque.

– Dr. Carlos, eu juro que se depois disso tudo eu estiver com tipo…2 cm de dilatação, eu vou MATAR alguém!

– Então deixa eu ver aqui e já correr pra porta, porque não quero ser eu.

Ele examinou e disse pra mim:

– Está com “…oi… “ centímetros.

– QUÊ? Dois ou oito?!

– Oito. Vai dar parto.

Nossa, que onda de felicidade! Até nas contrações eu tava meio sorrindo. Foi apenas aí que eu acreditei. Até então ainda achava que iam me mandar de volta pra casa. Eu simplesmente não acreditava que, depois de uma primeira gravidez em que eu mal tive contrações de treinamento, na segunda, depois de apenas 7 horas de contrações que me causavam uma dor até que administrável, eu já estaria com 8 centímetros de dilatação.

A Patrícia, presa no trânsito absurdo também, conseguiu chegar com aquelas mãos abençoadas, me fazendo massagem na lombar. Mal subimos pro quarto, já fomos pro centro cirúrgico, as contrações tinham aumentado demais, a dor estava intensa a e eu estava com vontade de empurrar.

Não, nada ainda do Ricardo. Mas eu estava em outro mundo, na famosa partolândia. Que maravilha dolorida!

Daí começou um tal de “eu quero analgesia!”, a Patrícia dizendo “não, vamos lá, falta pouco” e o dr. Carlos confirmando “acho que não vai dar tempo de analgesia”. Já estava totalmente dilatada e a qualquer momento, nasceria. Com papai ou sem papai, Gianluca ia vir.

Estourou a bolsa, finalmente. Com mecônio. Dr. Carlos continua tranquilo e diz que por agora, nada a se preocupar.

E vamos lá, sentada naquela banqueta de parto por 15 minutos, meia hora, 45 minutos de contrações muito fortes, uma atrás da outra, eu empurrando, lavada de suor, pedindo analgesia. A Pati dizia “falta pouco” e eu brigava com ela, chamava ela de mentirosa. Pobre Pati.

Eis que, finalmente chegou o papai! Branco, de olhos arregalados, afobadíssimo como era de se esperar. Presenciou umas poucas contrações, mas o dr. Carlos logo depois pediu que eu deitasse na maca pra tentar girar o Gianluca, que precisava terminar esse giro pra virar de lado e passar pelo canal vaginal, mas não deu. Por “não deu” eu quero dizer que o dr. Carlos tentou algumas vezes, mas eu não conseguia deixar, porque doía muito. Ele correu perigo real de levar um chute. Devia ter mais do que um Dia do Obstetra, devia ter uns 3.

Então, sinal de alerta: mais mecônio, batimentos cardíacos do Gianluca caindo. Ele me olha e pergunta: você quer mesmo analgesia? E eu respondo “Mas só se for agora”.

Depois daquele momento de tensão de ter que ficar parada – porque a contração não negocia com ninguém – pro anestesista conseguir injetar as abençoadas drogas, foi tudo muito rápido. Felizmente a analgesia só ajudou e não atrapalhou, como pode acontecer.

Umas contrações depois, tendo feito muita muita força, mas sem dor, podendo curtir cada minuto, vejo a cabeça do meu filho.

Um pouco mais de força e estão me entregando o nenê pelos braços, pra que eu me curve e termine de tirá-lo de dentro de mim. Papai corta o cordão umbilical.

Chegou Gianluca, com 3.690 kg, 53 cm, às 20h em ponto. Todos perfeitos, todos ótimos, todos presentes.

A emoção, o amor e a alegria invadem a sala e tudo está certo no mundo de novo.

 

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